quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

homeless

sempre me lembro
de quando me sentia
melhor dormindo em um
hotel de beira de estrada
do que na casa da minha mãe

quando viajo fotografo
onde queria morar
mas não me iludo:
a vida seria a mesma

moro em um lugar
que pode deixar de ser meu
a qualquer momento
se eu disser as palavras erradas

para o medo passar
preciso acreditar que
estar em casa
é estar em paz comigo



Norwegian Wood

Não sou
obsessiva-compulsiva
e nem
autodestrutiva
(a psicóloga garante)

Mas me sinto
um mo(n)struário
de disfunções
psicoafetivas

Queria me internar
em um lugar
até tudo passar, tipo
Norwegian Wood
(o livro)

Desde que o li
só penso que:
deixar a minha vida
ficar em silêncio
trabalhar na horta
(e ouvir Kath Bloom)
vão me curar

Mas a moça se mata no final



terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Conflito

Aprendi que a fixação
Bloqueia o fluxo natural
Da mente

A dor tem que fluir

Mas para esquecer
Tenho que lembrar
A todos os momentos

Do horror
Se descuidar
O amor
Vai voltar



segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Prêmio de consolação

Preciso entender a razão
de ser sempre trocada
pelas ex
No início achei que a culpa
era minha
Depois comecei a pensar que
as pessoas podem ser muito
mal resolvidas
Mas isso não é prêmio
de consolação
Mesmo

(09jan2015)



Talento

Quando eu era pequena
Fazia um desenho clássico
De casinha em perspectiva

Depois de mais de vinte anos
Fui entender
Que era uma perspectiva

Essa sou eu
Demoro mais de vinte anos
Para enxergar o óbvio

(12jan2015)

Adjunto adverbial de intensidade

As palavras que mais uso
São muito
E demais

(12jan2015)

Água

Ontem estive no Rio a trabalho, para uma reunião que acabou cedo, felizmente. Aproveitei para conhecer o MAR. Em uma das exposições havia um vídeo hipnotizante: uma mulher nadando, sob seu ponto de vista: ora dentro, ora fora da água. A câmera estava presa à cabeça dela, então via-se somente os braços, as mãos e o entorno de onde ela nadava: mar, rio piscina; e ouvia-se o som dela entrando e saindo da água. 

Foi hipnotizante, pois sempre que vejo alguém nadando, tenho a sensação de que a pessoa está em paz, vivendo um momento de prazer tranqüilo. 

Gosto de estar na água, mas não gosto de nadar. Demanda muito esforço físico, tenho dificuldade de respirar corretamente, além de uma certa aflição à água e medo em muitas situações. Mas ver a moça nadando, sob o ponto de vista dela, estritamente, foi como nadar sem toda a parte que me incomoda. De certa maneira foi uma experiência ideal.

Seria bom poder viver um relacionamento assim, na forma ideal. Sem as expectativas, medos, inseguranças – de ambas as partes. Mas não dá pra nadar sem se molhar, sem fazer esforço, sem respirar corretamente. 

Até dá pra nadar com medo, mas não recomendo.

(18abr2014)